(Texto escrito pelo autor em 2013)
Aproxima-se para mim a Páscoa de 2013 e para muitos já começou, o período de férias fazendo uso de 2 dias de férias para colar um fim-de-semana ao período oficial de descanso.
Nada de extraordinário nestes factos senão a data actual e a viagem que programei para o efeito.
A viagem é uma das muitas planeadas no passado e ainda não concretizadas até ao momento. Uma simples viagem de carro com 3 paragens que tem história para encher vários volumes de uma biblioteca.
Meteora que tem raiz literalmente em “Meteorite” é o segundo maior complexo de Mosteiros Ortodoxos na Grécia só perdendo para Mount Athos e faz,obviamente, parte da Lista “UNESCO World Heritage”. Tem a particularidade de não ter restrições para visitas a qualquer pessoa que se apresente com indumentária apropriada sendo por isso acessível a mulheres também. Ainda não conheço e serve de visita familiar que está interdita em Athos.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Meteora
O Lago Ohrid, também classificado pela Unesco, fica entre o território da República Macedónia e a Albânia. Isto na geografia política actual pois nos Balcãs as mudanças e conflitos levaram a que as fronteiras se desenhassem e redesenhassem ao longo da história, uma das partes fascinantes para quem vem de um a Pais com as fronteiras fixas mais “velhas” de todo o mundo. Um dos lagos mais antigos do mundo e o mais profundo dos Balcãs também promete bastante em termos de mosteiros e história local para se juntar ao descanso esperado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lago_Ohrid
Skopje a Capital da República Macedónia serve apenas de passagem de 1 noite para aliviar o regresso e dar a conhecer à família uma cidade por mim visitada já várias vezes em trabalho. Um caldeirão de etnias e uma cidade literalmente separada por 1 rio (Vadar)onde uma ponte de pedra liga as “duas cidades”. A parte muçulmana pontilhada de mesquitas e a parte onde a maioria da população e o “centro” realmente existe. Uma região que reconstrói agora a história de uma forma que é questionada por alguns. Em busca de uma identidade que quer (re)afirmar tem renovado grande parte da cidade com ícones e estátuas, algumas impressionantes na sua opulência. Na praça principal o “Alexander the Great” eleva-se a vários metros de altura por ter ai nascido mas numa altura em a Macedónia era um estado da Grécia. Também ai perto se pode ver gravado no chão o sítio onde ficavam os cantos da casa da Madre Teresa. A casa já não existe e ela nasceu quando esta região estava inserida na Albânia, razão pela qual o aeroporto de Tirada se chama“Nana Teresa”. Muito outros casos poderiam ser descritos visto que o território actual da República da Macedónia ter também sido parte da Bulgária no passado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Skopje
Mas a razão deste artigo tem como base uma outra questão, no fundo a data a que está a ser escrito. Estamos a 27 de Abril de 2013 quando em Portugal já se comemorou o 25 de Abril com uma Páscoa quase já esquecida que aconteceu no dia 31 de Março. Para mim,em território de tradições do ortodoxo Grego apenas a 5 de Maio serão as comemorações Pascais por estes lados.
Se em 2012 a diferença de uma semana nas comemorações não me levantou grandes questões por saber que o calendário religioso ortodoxo se rege ainda pelo antigo calendário juliano, a diferença de mais de 1 mês aguçou o meu apetite de saber.
A primeira“investigação” passou pela simples inquirição dos colegas Búlgaros, Sérvios e Gregos que pensei serem versados na questão pela cultura em que estão inseridos. Nada mais errado, nem sabiam a regra simples do cálculo da Páscoa “moderna”… o primeiro Domingo após a lua cheia que se segue ao equinócio de primavera. Com esta regra chega-se rapidamente a 31 de Março sem necessidade de grande rigor científico.
Equinócio a 21 de Março –a próxima Lua cheia a 27 de Março – Domingo seguinte a 31 de Março e logo Páscoa encontrada.
Pensei que a razão da diferença fosse a proximidade da Lua Cheia do dia 21 de Março pelo que de modo automático fiz o cálculo baseado no calendário Juliano. Pegando na diferença acumulada pela não anulação do ano bissexto nos anos seculares divisíveis por 400 temos os 13 dias actuais. Assim o Equinócio “ortodoxo” passa para o dia 3 de Abril (no calendário Gregoriano ou civil) – Próxima lua cheia a 25 de Abril – Assim a Páscoa deveria ser amanhã, dia 28 de Abril. Mas tal não é a realidade… ainda mais uma semana vai passar até que se comemore a Páscoa nesta parte do Mundo.
Lancei-me então na investigação mais pormenorizada da diferença. “Viagem “ que me levou á história da Páscoa Cristã.
A Páscoa tem como étimo “passagem”, quer seja ela a passagem do inverna para a primavera nas festas pagãs, a passagem feita pelo povo judaico da escravatura no Egipto para a terra prometida ou a “passagem” (ressurreição) de Cristo.
A história da Páscoa acaba por ter raízes nas longínquas comemorações Pagãs de primavera e no Judaísmo que comemora sempre no dia 14 do mês de Nisan. Mas para o Cristianismo a “Normalização” das datas dispersas nas várias tradições é feita no Concílio de Nicea no ano de 325 DC, altura em que o calendário juliano já estava bem estabelecido.
Foi nessa altura que a actual regra define uma forma astronómica para o cálculo da Páscoa tendo também sido movida para o “Dia do Senhor”, o Domingo também“criado” nessa altura.
Numa evolução normal a Páscoa Católica (ou latina) sofreu as alterações decorrentes da adopção do Calendário Gregoriano em 1582. Na altura pretendia-se fazer regressar o começo da primavera a 21 de Março anulando 10 dias de calendário. A diferença no entanto continua a aumentar a um ritmo de 3 cada 400 anos pelo facto do calendário Juliano ter anos bissextos de 4 em 4 anos e não anular os anos seculares não divisíveis por 400.
Apenas como curiosidade podemos observar que Portugal adoptou aquilo que foi considerado um calendário Europeu logo em 1582 mas muitos países apenas o fizeram já no século XX.
Para compreendermos a diferença temos ainda de referir 2 pontos adicionais.
O Grande Cisma ou Cisma do Oriente que deu origem à “criação” da vertente ortodoxa deu-se em1054.
Assim, aquando da implementação do calendário Gregoriano o Papa Católico já não tinha influência sobre a Igreja de Constantinopla tendo esta ultima continuado, como vimos, a reger-se com o calendário Juliano que estava em vigor desde 46 AC.
Mas os ortodoxos acabam por ser mais “papistas que o papa” e na sua defesa da tradição e mantém algo que aparentemente a Igreja de Roma deixou de usar.
Durante o Consílio de Nicea não havia ainda um desenvolvimento astronómico que permitisse prever as luas de forma exacta. Ou deveria dizer que não havia esse desenvolvimento no “iluminados” da altura pois povos como os Maias e outros já milénios antes o tinham feito.
Foi por isso utilizada uma tabela cíclica de 19 anos para definir essas datas. Abaixo a tabela usada entrem 1900 e 2099.
E no fundo esta é a última chave da questão. Hoje em dia utilizamos a Lua Cheia astronómica para os cálculos enquanto os ortodoxos continuam a usar o que o Consílio de Nicea definiu como “Lua Cheia Pascal”.
Sendo 2013 um ano 19 no ciclo a Lua Cheia que define a Páscoa é o dia 30 de Abril. Logo o Domingo seguinte e Páscoa ortodoxa de 2013 é a 5 de Maio.
Boa Páscoa!
Agora so ém 2024 🙂
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